sexta-feira, 21 de novembro de 2008

SUICIDIOS NAS FORÇAS DE SEGURANÇA

Assunto chato e muito complicado. E se os casos ocorrem no seio das forças de segurança têm um maior impacto na opinião pública. Para alguns "trata-se de um acto de covardia que requer muita coragem", para outros "trata-se de uma fuga aos problemas". Contudo, todos somos unânimes ao afirmar que quem comete estes actos tresloucados são pessoas doentes com momentos fatídicos de fraqueza. Urge efectuar um diagnóstico e encontrar uma terapia para esta doença. Não sou psicólogo nem psiquiatra, no entanto, os anos de profissão que já me pesam nos ombros, levam-me a ter uma opinião pessoal sobre o assunto. É esta reflexão e este estudo que se exige à tutela das forças de segurança.
Segundo a minha opinião, são vários os factores que levam estas pessoas a atentar contra a própria vida. Enumerarei alguns que em minha opinião têm contribuido para estas tomadas de posição tão drásticas:
  • Alimentam-se falsas expectativas aquando do ingresso nas forças de segurança. Os candidatos pensam que tudo é um mar de rosas. Prespectivas de carreira, ordenados compatíveis, uma assistência médica eficiente, etc. E depois, o que é que encontram?
  • Fragmentações no seio familiar. Quantos deles abandonam mulheres e filhos nas localidades de onde são naturais para prestar serviço nos grandes centros urbanos;
  • Dificuldades nas transferências para os Comandos de preferência;
  • Pressão a que são submetidos durante o serviço;
  • Falta de acompanhamento por parte da hierarquia quando em situações complicadas de natureza operacional. Com o evoluir dos tempos vai-se notando um maior isolamento por parte dos agentes policiais em acções de patrulhamento;
  • A recente alteração da idade para atingir a pré-reforma;
  • Outros motivos há que por razões éticas e morais não vou descrever.

Não sou saudosista dos antigos métodos utilizados pela hierarquia policial. No entanto, apesar da existência de uma disciplina rigorosa imposta pela hierarquia, notava-se uma maior solidariedade entre os membros da família policial. Os problemas de um elemento, mesmo de índole familiar, eram superados no grupo de trabalho. Havia sempre uma mão amiga que nos pousava no ombro. Dizia-se na altura e disso eramos acusados, que a Instituição era corporativista.

Actualmente, existe um Gabinete de Psicologia a funcionar na Quinta das Águas Livres em Belas, gabinete este que faz o acompanhamento dos elementos policiais que a ele recorrem. Já se ouve dizer que os psicólogos são escassos para as necessidades. Estamos a falar daqueles que voluntariamente recorrem aos serviços do gabinete. Então e aqueles que. embora necessitados, que estão devidamente sinalizados, que não reconhecem a sua situação de doentes, o que é que tem sido feito para os tratar? Nada.

Escrevo isto com mágoa e em tom de desabafo. Sou alguém que já lidou com estes problemas e que já viu partir amigos que optaram pelo suicidio como solução para os problemas. Eram excelentes profissionais e como humanos que eram, tiveram um momento de fraqueza que lhes foi fatídico.

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