quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

FILHO ÉS PAI SERÁS...



Filho és pai serás, como vires fazer assim acharás. Trata-se de um provérbio antigo em que se narra a história de uma pequena aldeia onde os seus habitantes tinham o costume de levar os pais, já idosos, para o cimo de uma montanha onde iriam passar o resto dos seus dias de vida. Certo dia, um filho ao levar o seu progenitor para essa dita montanha, deixou-lhe uma capa para ele se agasalhar do frio. Eis senão quando, o velhote, virando-se para o filho, perguntou-lhe se ele tinha uma faca. Intrigado com esta pergunta enigmática, o filho pretendeu saber o porquê desta questão. Resposta sábia do velhote: " É para cortar a capa do agasalho que me deste para tu ficares com metade quando os teus filhos de trouxerem para este monte".

Vem esta história a propósito de uma notícia que hoje ouvi na Rádio Sim e que interferiu com os meus sentimentos. Sou pai e sou filho.

O jornalista, com a devida fundamentação baseada em entrevistas, dava a notícia que, em Setúbal, mais precisamente no Hospital de S.Bernardo, são efectuados diariamente depósitos de idosos, para que sejam internados naquela unidade hospitalar. Segundo um dos entrevistados, ao que presumo tratar-se de um elemento que integra a direcção do Hospital, alguns deles deixam ali os pais para irem descansados ver o Vitória de Setúbal.

Falar de relações de afectividade não é propriamente um discurso que me agrade e para o qual eu esteja devidamente preparado sociologicamente. A minha explanação de ideias é baseada na prática e na cultura de valores que me foram transmitidos.

Trata-se de um delicado tema que envolve não somente direitos e deveres, mas também questões morais e éticas que habitam (ou deviam habitar) na consciência de cada ser humano.

Os pais têm, em relação aos filhos, o dever de sustento, de cuidado, de zelo, de educação, etc. Os filhos, por sua vez, mais que não seja, têm essa dívida para saldar. Talvez os pais não exijam essa retribuição mas é nosso dever moral satisfazê-la.

A maior parte dos comportamentos do ser humano são adquiridos. Ou seja, algumas poucas atitudes são provenientes de traços da própria personalidade, enquanto a maioria é construida ao longo da vida, quando o ser humano tem contacto com pessoas, objectos e conhecimento, seja este teórico ou empírico. Traumas e maus tratos, mais precisamente o trauma do abandono afectivo parental, imprimem uma marca inesquecível, tipo nódoa negra, no comportamento das crianças ou adolescentes. Podem-se relatar inúmeras formas de abandono moral e afectivo que vão formar na mente das pessoas desejos de vinganças pessoais, próprias de uma vida desprovida de prespectivas e responsabilidades.

Este é acima de tudo um problema actual fruto do rumo imprimido a esta sociedade injusta e imoral. Todos os valores éticos e morais são esquecidos.

Não quero com isto dizer ou afirmar que todos os filhos tenham o mesmo comportamento em relação aos pais. Felizmente a grande maioria, onde me incluo, não se revê no quadro que relatei.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei muito deste artigo, padrinho, mas isto é o mesmo que "dar pérolas a porcos", tal é a degradação da nossa sociedade. Ainda ontem, Sábado dia 16 de Janeiro, aconteceu o mesmo na nossa cidade, uma senhora que deixou o pai no Hospital de Elvas, e depois deu como contactos, caso ele tivesse alta, dados telefónicos que, posteriormente se averigou serem falsos. Depois o hospital, na tentativa de sacudir "água do capote", quis fazer daquilo um problema da polícia.
Um abraço deste seu "afilhado", Chico Restolho